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A Web Summit, considerada a maior conferência mundial de tecnologia, voltou a reunir mais de mil oradores e 60 mil participantes em Portugal no mês passado. Durante o evento, a equipa da revista ArchiExpo e-Magazine, nossa parceira editorial, procurou saber de que forma a tecnologia pode contribuir para um melhor urbanismo e, em especial, para o planeamento das “smart cities”, ou cidades inteligentes, de amanhã. Erin Tallman, chefe de redação, entrevistou o arquiteto de regeneração urbana Thomas Ermacora, bem como Juergen Resch, fundador da Wmoove, e Yvonne Wassenaar, diretora executiva da Airware.
A tecnologia esteve na origem de inúmeros problemas em termos de planeamento urbano. Com o aumento exponencial de viaturas após a Segunda Guerra Mundial, os urbanistas começaram a planear as cidades em função do automóvel, negligenciando as necessidades dos indivíduos e das comunidades.
No entanto, a tecnologia também pode oferecer soluções se for devidamente integrada numa conceção urbanística centrada nas pessoas. Na perspetiva do arquiteto Thomas Ermacora, cinco elementos fulcrais podem conduzir a um melhor planeamento urbano: a adoção de ferramentas de planeamento participativo, a criação de um quadro open-source integrador de políticas de software, a aplicação da inteligência artificial ao processamento de grandes volumes de dados, o recurso à psicologia social e, por fim, a utilização da biotecnologia/nanotecnologia.
Construção colaborativa de futuros urbanos por meio da tecnologia
No seu livro de autoria conjunta Recoded City: Co-creating Urban Futures, Thomas Ermacora e Lucy Bullivant exploram o passado e o presente do sistema de planeamento urbano colaborativo a fim de demonstrar o seu potencial futuro. Por exemplo, o arquiteto recupera a ideia de urbanismo open-source, um conceito muito mais antigo do que se poderá pensar. Em 2010, Ermacore e Bullivant juntaram-se para dar forma ao projeto editorial Recoded City, no qual se sublinha a importância da participação dos cidadãos na criação de cidades sustentáveis que ofereçam uma boa qualidade de vida. Segundo Thomas Ermacore,
Este é um momento deveras empolgante devido à crescente tomada de consciência pelos gabinetes de arquitetura e de design, e até mesmo pelos autarcas, de que a participação dos cidadãos não significa forçosamente uma conceção urbanística menos rica.
Esta conferência global de tecnologia, a maior do setor, representou uma excelente oportunidade para discutir o tema das cidades open-source com grandes protagonistas da área tecnológica, tanto na vertente de desenvolvimento, como na vertente de integração.
Num mundo onde a tecnologia está omnipresente, em que cada indivíduo traz no bolso um smartphone, é possível criar uma rede de colaboradores de planeamento urbano que atinja uma grande visibilidade.
Drones trazem visão digital do espaço urbano
A Airware, empresa de análise de dados recolhidos por drones, apresenta uma nova forma de apreender o mundo e de interagir com ele. A companhia recolhe imagens, dados sensoriais e dados da Internet das Coisas, entre outros, capturados por drones, transformando-os depois numa visão digital de um determinado espaço como, por exemplo, um local de obras. Yvonne Wassenaar, diretora executiva da Airware, explica:
Já não é necessário que as pessoas se coloquem em situações de perigo quando existe a possibilidade de enviar um drone para recolher dados sobre o estado de degradação de um telhado, por exemplo. O que fazemos na Airware visa essencialmente a prevenção de riscos.
Graças à exploração das tecnologias atuais, como a Cloud, a aprendizagem automática, a inteligência artificial, entre outras,
[a Airware está a preparar] um mundo com um futuro auspicioso: mais seguro, construído de forma mais eficiente, dotado de mais e melhores recursos, etc.
Os drones oferecem ao setor da construção uma grande facilidade na recolha de dados. Porém, os construtores precisam de estruturar esses dados de modo a que sejam utilizáveis, partilháveis, uma base para ações concretas. O sistema da Airware ajuda a monitorizar a evolução da obra, incluindo operações de terraplenagem, bem como as alterações ao projeto. Além disso, compara o planeamento inicial com o trabalho efetivamente realizado.
É impressionante estarmos a aplicar tecnologias como a aprendizagem automática e a inteligência artificial ao mundo real, a um mundo onde, até agora, muitas indústrias evidenciavam um atraso substancial em termos de desenvolvimento digital.
Libertar a energia contida no lixo
Aderindo à ideia de que a sustentabilidade é o futuro, a start-up alemã Wmoove apresenta soluções para dois dos maiores problemas da atualidade: a quantidade excessiva de lixo produzido e o elevado consumo de energia. A empresa desenvolveu estações de recarga que transformam os resíduos em energia e a armazenam por um período máximo de seis horas até à sua transferência. Esta poderá ser utilizada para recarregar veículos elétricos ou ainda para abastecer de energia diferentes tipos de instalações. Juergen Resch, fundador e diretor da Wmoove, explicou à ArchiExpo e-Magazine como funciona este sistema:
Desenvolvemos uma tecnologia à base de micro-ondas que aquece os resíduos. Depois de separados os sólidos, como por exemplo o metal, procede-se à gaseificação dos restantes. Por fim, é utilizada uma hidroturbina para produzir a energia.
A Wmoove está, atualmente, em busca de clientes entre os supermercados, onde os resíduos de alimentos e embalagens poderiam ser convertidos em energia elétrica para abastecer tanto instalações como veículos elétricos. A empresa prevê que também os aeroportos e os centros comerciais venham a tornar-se seus clientes. O sistema poderá revolucionar alguns dos principais elementos urbanísticos, designadamente as infraestruturas, se os urbanistas integrarem as estações de recarga da Wmoove nos seus projetos. Após a instalação de cinco destes sistemas, Dusseldorf será a primeira cidade a usufruir desta tecnologia inovadora, ampliando assim o conceito de cidade inteligente.
Texto traduzido do inglês por Helena Lino