MOBILE WORLD CONGRESS. As notícias sobre os primeiros lançamentos de uma nova geração de chips e de equipamentos, anunciados por algumas operadoras de telecomunicações, parecem indicar que a chegada do 5G vai ocorrer mais cedo do que o esperado. No setor industrial, a pergunta que se coloca é: que possibilidades se abrem com este salto gigantesco na velocidade de banda larga móvel?
A indústria das telecomunicações já se tinha deparado com esta questão antes, aquando da evolução dos padrões de rede. Mas desenvolver o padrão atualmente mais avançado, o 4G LTE (Long Term Evolution), que atinge velocidades até 100 Mbps, é totalmente diferente de uma transição integral para o 5G com, pelo menos, 20 Gbps. Isto porque o 5G é mais do que uma questão de velocidade. O 5G torna possível que um número quase ilimitado de dispositivos se conecte à rede e, também, que a transmissão de dados se realize sem interrupções, que a indústria designa de “latência”. Esta tecnologia foi concebida de forma a conectar fábricas inteiras, cadeias de abastecimento, veículos autónomos, robôs operados à distância e óculos de realidade virtual sem fios, por exemplo.
Para Gordon Mansfield, vice-presidente da AT&T,
O 5G viabiliza novos tipos de aplicações que, em gerações anteriores, era impossível disponibilizar num sistema móvel.
O futuro já chegou
Em dezembro de 2017, a organização do setor industrial 3GPP definiu o primeiro conjunto de padrões 5G, permitindo às empresas de hardware e de chips começarem a desenvolver equipamentos compatíveis. Prevê-se que um segundo conjunto de padrões esteja concluído em junho de 2018.
Para Jane Rygaard, diretora do marketing 5G na Nokia,
Está a acontecer muito mais rapidamente do que aquilo que observámos com os padrões de rede anteriores. Já se realizou muito trabalho no âmbito do pré-5G.
O atual 4G LTE foi concebido para ir sendo adaptado ao padrão seguinte. Ainda antes de os padrões estarem definidos, as empresas de telecomunicações haviam já efetuado testes piloto, o que significa que estão preparadas para lançar o 5G este ano.
Nos EUA, as operadoras de telecomunicações AT&T, Verizon, T-Mobile e Sprint anunciaram datas precisas para os primeiros lançamentos, que se situam entre o final de 2018 e o início de 2019. Os fabricantes de chips Intel, Qualcomm e Samsung revelaram novos planos para o silício. A China Telecom e a japonesa NTT DoCoMo contam iniciar serviços comerciais 5G em 2020. Enquanto isso, a gigante sul-coreana de telecomunicações KT Corporation formou uma parceria com a Samsung Electronics e a Intel com o intuito de construir uma rede 5G funcional para os participantes dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang, que decorrem este mês.
Em busca de aplicações para o 5G?
Embora seja possível começar a construir desde já a infraestrutura 5G, os chips, o software e o hardware de rede encontram-se ainda, maioritariamente, em fase de conceção. Por enquanto, as aplicações e os dispositivos 5G existentes não são muitos. Javier Gutiérrez, diretor de Estratégia da Telefónica España, explica:
Não temos um conjunto claro de serviços que possam vir a beneficiar do 5G. Devemos evitar que esta se transforme numa tecnologia em busca de aplicações práticas.
A Telefónica anunciou, em janeiro, uma parceria com a Nokia e a Ericsson para construir redes 5G nas cidades espanholas de Segóvia e Talavera de la Reina. Os parceiros irão testar novos produtos, tais como serviços de automóveis conectados e serviços de realidade virtual e de realidade aumentada para turistas.
A Nokia anunciou recentemente a sua “arquitetura de rede Future X”, que permitirá aos utilizadores finais conectarem-se a redes 5G.
No entanto, Rygaard salienta que, no passado, primeiro ocorreram grandes avanços em termos de velocidade de rede, a seguir aos quais surgiram aplicações inovadoras que poucos haviam previsto:
Não é possível saber tudo de antemão. Temos de ter cuidado para não nos concentrarmos demais neste aspeto, nem acreditarmos que é necessário prever, desde o início, todas as aplicações comerciais.
Mas a ARM, líder no fabrico de chips para dispositivos móveis, não corre riscos. No ano passado, criou um Departamento de Infraestrutura responsável por identificar serviços promissores baseados no 5G, de modo a que a empresa possa projetar os tipos de chips apropriados.
Para o vice-presidente Drew Henry,
Esta transição irá fazer surgir um tipo de empresas completamente diferente. Neste momento, assiste-se um pouco a um caos controlado à medida que os avanços nesta indústria se sucedem. É um momento deveras emocionante!
Traduzido do inglês por Helena Lino